“Memorizei o cara de blusa cinza, boné azul e uma mochila verde. Peguei a moto e fui atrás para ver se achava. Rodei durante 15 minutos só nos pontos de tráfico para ver se achava. Não achei. Decidi ir em um outro, que é um pouco mais afastado.”
“Quem tem que fazer [esse papel] é a policia, mas a situação ontem me obrigou. Eu chamei a polícia e demorou uma hora e meia para chegar. Imagina eu ligando para a policia para falar que roubaram meu celular. Você acha que eles iriam atrás?”, defende.
Microempresário na região onde mora há 39 anos, Batman, como exige ser chamado, ele rechaça a definição de justiceiro, e alega que usou as cordas do equipamento de rapel “apenas para manter o rapaz imobilizado”.
“Os populares queriam linchar ele. Teve um cara que queria tocar fogo nele. Eu não deixei ninguém fazer nada. Justiceiro é quando judia, mata. Eu só segurei o cara para ele não fugir, teria o mesmo efeito que uma algema", compara.
Nas fotos feitas com a câmera fotográfica do próprio empresário, e divulgadas no perfil da "Liga Loucos Pela Paz" no Facebook, porém, o suspeito parece estar sendo machucado. Batman alega que o rapaz queria fugir.
“Ele estava berrando, se debatendo. Ele ficou deitado no chão durante uma e meia porque a policia não chegava." Segundo ele, oficiais da Guarda Civil Metropolitana (GCM) que faziam ronda no local levaram o rapaz para o 47° Distrito Policial, onde o boletim de ocorrência foi registrado.
Não é a primeira vez que o empresário assume o papel de policial. Há menos de 10 dias, ele diz que agiu ao perceber dois meninos furtando o aparelho celular de uma senhora que caminhava pelo bairro. Desta vez, sem fantasia. “Eu estava de moto, consegui segurar um e acionei a policia. A viatura chegou em cinco minutos", recorda.
Dono de uma empresa de pinturas e reformas, ele resolveu se fantasiar de super-heroi para que seus protestos tivessem maior apelo. Planejava ser o Homem-Aranha, mas não encontrou roupa que lhe servisse. “Pelo tamanho fui obrigado a chamar o Batman", explica.
Separado e pai de dois filhos, ele se define como um “sobrevivente” do bairro. Acredita que com suas reivindicações tenha conseguido melhorar as condições e o atendimento da Assistência Médica Ambulatorial (AMA) do Capão Redondo. “Fui ao AMA com pneumonia no dia 26 de maio, e demorei oito horas para ser atendido.” Batman revela que agora a espera dura cerca de 30 minutos, e 28 novos médicos começaram a trabalhar no ambulatório.
Entretanto, os protestos escalando prédios públicos como a Câmara Municipal, no Centro, e a Ponte Estaiada, na Zona Sul, já o levaram inúmeras vezes para a delegacia. “Dia 9 foi a 20° prisão minha. O policial faz o serviço dele, encaminha para o juiz, que me chama, e jugula. Não causei nada para ninguém, até hoje a Justiça sempre foi a meu favor", conclui.
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