“O
cacauicultor deveria plantar não só cacau, mas também cultivar no seio da
cacauicultura o sentimento de organização e recuperação do seu negócio e de uma
região”. Esta frase, dita pelo prefeito de Canavieiras, Almir Melo, aos
cacauicultores sul-baianos é um alerta para a necessidade de uma ampla
mobilização, com a finalidade de tornar conhecidas as reivindicações da lavoura
cacaueira.
Na
reunião promovida pelo Sindicato Rural de Canavieiras, que aconteceu na noite
de sexta-feira (30), no auditório da Secretaria Municipal da Educação, os
produtores rurais analisaram as atuais conjecturas do “negócio cacau” e a
insegurança jurídicas das propriedades, com as constantes invasões. Para o
presidente do Sindicato Rural de Canavieiras, Gilson Liberato, a sobrevivência
da cacauicultura depende das ações intra e extra fazendas, principalmente junto
às autoridades governamentais.
O
prefeito Almir Melo declarou seu apoio à atividade, ressaltando que Canavieiras
é o “berço” da cacauicultura e comentou que recentemente, quando se encontrou
por alguns minutos com a presidente da República, Dilma Rousseff, solicitou que
ela dê uma atenção especial à atividade, que passa por problemas desde que
sofreu o ataque do fungo causador da vassoura-de-bruxa.
Almir
disse, ainda, que a simples prorrogação das dívidas contraídas pelos produtores
junto aos agentes financeiros e ao Tesouro Nacional não é capaz de solucionar
as pendências. Para o prefeito, é preciso que seja elaborado um amplo programa
de readequação das dívidas, que permita aos produtores a contratação de novos
recursos.
Outra
consideração feita por Almir Melo foi em relação à falta de fomento das
atividades rurais, haja vista que os bancos, inclusive o Banco do Brasil,
deixaram de ser órgãos de apoio ao desenvolvimento para se tornarem meros
agentes financeiros. “Sou um homem de luta, prefeito da Terra Mater do
Cacau, e os cacauicultores podem contar com meu apoio em defesa desta lavoura”,
se prontificou Almir Melo.
Incapacidade
para investir -
Quem também concordou com o prefeito Almir Melo foi o presidente do Sindicato
Rural de Ilhéus, Milton Andrade Júnior, afirmando que atualmente existe
tecnologia confiável para a lavoura cacaueira, porém o produtor está impedido
de realizar novos investimentos por falta de capacidade de endividamento. “O
mais grave disso é que as dívidas dos cacauicultores são decorrentes das
orientações sobre a prática de manejo erradas e que prejudicou terrivelmente o setor”,
disse Milton Andrade.
Ressaltou
o presidente do Sindicato Rural de Ilhéus, que a cacauicultura, antes uma
atividade que participava com 60% do Produto Interno Bruto ((PIB) da Bahia, há
25 anos atravessa um período de incertezas. Afirma, Milton Andrade, que o cacau
continua sendo a principal matriz econômica regional, e portanto deveria ser
visto como “outros olhos” pelos governos.
“Hoje a Ceplac já possui tecnologia
suficiente para implantar uma nova cacauicultura, com material genético de
qualidade, tolerante à doenças como a vassoura-de-bruxa, porém os
cacauicultores estão descapitalizados”, reconhece Milton. Para a liderança dos
agricultores, a dívida contraída para combater a vassoura-de-bruxa deixou os
produtores rurais sem a capacidade de contratar novos recursos para investir
nas roças de cacau.
Além
das dificuldades para contrair investimentos para a manutenção das roças atuais
e a implantação de novas lavouras com os materiais genéticos aprovados pela
Ceplac, os cacauicultores também reclamam da insegurança jurídica em que vive o
homem do campo. “Todo esse esforço feito pelos cientistas pode ficar em vão por
falta de utilização das terras”, reconhece Milton Andrade.
O
presidente do Sindicato Rural de Ilhéus diz que não consegue conceber que os
invasores – sem-terras e pseudos indígenas – recebem proteção especial de
setores do Governo Federal. Segundo ele, enquanto os produtores rurais “são
sufocados” pelas áreas econômicas da União, os invasores recebem tratamento
especial, inclusive para continuarem a agir fora da lei.
De
acordo com o presidente do Sindicato Rural de Canavieiras, nas regiões onde os
conflitos estão mais presentes diminuíram sensivelmente os investimentos, com
consequências negativas para os trabalhadores rurais, despedidos dos seus
empregos. “Até os produtores que têm capacidade de investir em suas lavouras
não o fazem pelo temor de serem expulsos de suas propriedades, diante da
conivência das autoridades governamentais”, concluiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário