Dos 30,3 bilhões de
litros de etanol que serão produzidos nesta safra, 1,4 bilhão será produzido a
partir do milho. Apesar de ainda representar um percentual baixo, na comparação
com o total produzido (4,62%) a extração de etanol a partir do milho é vista de
forma positiva pelo potencial de crescimento em termos de mercado, e pela
possibilidade de ser mais uma opção de escoamento da produção brasileira, que é
uma das maiores do mundo.
Os números foram
apresentados hoje (7) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no 1º
Levantamento da Safra 2019/2020 de cana-de-açúcar, que traz dados sobre o
etanol produzido a partir da cana e do milho e sobre a produção de açúcar.
De acordo com a
Conab, a produção de etanol a partir do milho está “cada vez mais relevante”,
tendo Mato Grosso como o maior produtor, seguido por Goiás e Paraná. A
expectativa é de que novas unidades de produção sigam o mesmo caminho.
“É um novo negócio.
O Brasil tem a possibilidade de fazer etanol de milho e de cana. E, no futuro,
teremos condições de fazer um etanol que chamamos de segunda geração, que é o
etanol de biomassa. Portanto, é um novo mercado que está se abrindo”, afirmou o
coordenador-geral de Cana-de-Açúcar e Agroenergia do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, Cid Caldas.
Caldas, no entanto,
frisa que nem todas as regiões do país terão condições de se beneficiar desse
tipo de produção. “Não dá para dizer que se produzirá etanol de milho em todo o
Brasil, porque isso depende de condições e de preços locais. Mas é um nicho de
mercado que está se criando, bastante promissor, e os investimentos que estão
sendo feitos nessa indústria são bastante expressivos”, acrescentou.
Ele estima mais de
R$ 5 bilhões em investimentos na produção de milho para a extração de etanol,
ao longo dos próximos 4 ou 5 anos.
Etanol anidro e
hidratado
A produção total de
etanol no país para a safra 2019/2020 deverá ser 4,2% menor do que a registrada
na safra passada (33,1 bilhões de litros). Segundo a Conab, a expectativa é de
que o anidro – álcool utilizado na mistura com a gasolina – aumente em 11%, e
chegue a 10,6 bilhões de litros.
Já o hidratado, que
é etanol vendido na bomba, deverá alcançar a produção de 19,7 bilhões de
litros, o que representará redução de 16,5% (ou 3,88 bilhões de litros), na
comparação com a safra passada.
Com relação à
cana-de-açúcar, a Conab prevê, no primeiro ciclo da safra 2019/2020, uma
produção próxima a 616 milhões de toneladas, número 0,7% menor do que o
registrado na safra anterior (620,4 milhões de toneladas). De acordo com a
Conab, a redução se deve à retração da área colhida – estimada em 8,38 milhões
de hectares (área 2,4% menor do que a observada na safra 18/19).
Açúcar voltando à
normalidade
A previsão é de que
a produção de açúcar volte a aumentar, chegando a 31,8 milhões de toneladas
(crescimento de 9,5%, na comparação com a safra passada). Na avaliação da
Conab, isso demonstra uma tendência de reequilíbrio entre a destinação de
cana-de-açúcar para a fabricação de açúcar e de etanol.
Segundo o superintendente
de Informações do Agronegócio da Conab, Cleverton Santana, esse é um movimento
de retorno à normalidade porque, no ano passado, o preço do açúcar foi reduzido
no mercado internacional. “Como a maior parte da nossa produção é para
exportação, isso influenciou a decisão de nossas unidades para reduzir a
produção, na ocasião. Volta-se agora para uma produção dentro da normalidade”,
disse o superintendente.
A tendência, no
entanto, é que o mercado ainda se mantenha mais atrativo para o etanol, devido
à grande quantidade de açúcar no mercado internacional, com a Índia mantendo
sua produção elevada, o que prejudica as exportações brasileiras e puxa para
baixo o preço no mercado interno.
“No ano passado
ocorreu um ponto fora da curva. Os preços de açúcar caíram no mercado
internacional e o preço da gasolina aumentou. Então, ficou muito mais vantajoso
o consumidor abastecer com etanol hidratado. Com o aumento da demanda, as
usinas optaram por produzir mais hidratado. Nesta safra, elas devem ter redução
na produção, dando prioridade ao açúcar e ao anidro, uma vez que 27,5% da
gasolina consumida no país deve ter o etanol anidro.”
Diferenças na
produção de etanol a partir do milho
Muitas variáveis implicam na decisão do produtor produzir etanol a
partir do milho ou da cana, informou Santana. A principal é o preço da cultura
do milho. “Tem também o fato de o milho poder ser produzido na entressafra da
cana. Com isso, muitas usinas que estão lá são as que chamamos de flex,
porque produzem etanol ou açúcar a partir da cana, na safra de can,a e na
entressafra utiliza-se milho.”
De acordo com o
secretário, a Conab iniciou estudos comparativos apontando que uma tonelada de
milho pode produzir até 420 litros de etanol. “É maior do que a cana, que é uma
tonelada para 90 litros. Só que a cana produz muito mais por hectare. Aí a
conta inverte, porque enquanto a partir do milho é possível produzir cerca de
2,5 mil litros de etanol por hectare, enquanto, a partir da cana, passa de 6
mil litros de etanol por hectare”, ressaltou.
Ainda segundo o
superintendente da Conab, há diferenças também durante as etapas de produção
dentro das usinas. “O tempo de fermentação para produzir etanol de milho é
maior do que para produzir a partir da cana. Com 10 ou 12 horas de fermentação
da cana, já é possível extrair o etanol. No caso do milho, é necessário
ultrapassar 30 ou 40 horas”.
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