A vontade de exercer a
medicina no Brasil, depois de passar pela faculdade no exterior,
movimenta mais de 900 médicos na segunda etapa do Exame Nacional
de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação
Superior Estrangeira (Revalida) neste fim de semana.
A exigência é feita tanto para médicos brasileiros que estudaram
medicina no exterior quanto para os estrangeiros que querem trabalhar no
Brasil. Entre os candidatos que aguardavam o início das provas em
Brasília, estava o cubano Pierre Oliveira*.
Ele contou que abandonou o Mais Médicos há dois anos, por
considerar injustas as condições do programa. Casado há 4 anos com uma
brasileira e com dois filhos, Oliveira trabalhou em uma cidade do interior do
Mato Grosso pelo programa. Ele contou que desde que deixou o Mais Médicos tem
se dedicado a estudar para o Revalida.
O professor cubano Juan Martin* aguardava a filha na saída do
local de provas. A filha, de 26 anos, estudou medicina em Cuba. Ele
considera uma forma de discriminação exigir revalidação do diploma de cubanos
para participar do Mais Médicos. “Cuba tem muito bons profissionais. Se
não for exigida a validação do diploma dos médicos de todas as
nacionalidades, é uma gravíssima discriminação com os cubanos”.
Exigências
Martin informou que chegou no Brasil há 21 anos, também por
meio de convênio de trabalho. “A situação era pior que a do Mais Médicos. Tinha
de entregar 75% para o governo cubano e os 25% restantes eram para pagar
aluguel, comprar comida e enviar dinheiro para a família”, contou.
Após cinco anos distante da mulher cubana, ele acabou se
separando. “Não era permitido sair do país com a família.” Martin
se casou com uma brasileira e não voltou mais para Cuba.
Faz apenas visitas esporádicas ao país. “A separação da família não é
certa, mas quem vem para o Brasil está ciente das condições. Ninguém vem
obrigado. Os médicos cubanos estão em cerca de 66 países em
programas como o do Brasil e só o presidente brasileiro reclama”,
criticou.
No último dia 14, o governo de Cuba informou que deixará de
fazer parte do programa Mais
Médicos. A justificativa do Ministério da Saúde cubano é que as
exigências feitas pelo governo eleito são “inaceitáveis” e “violam” acordos
anteriores. O presidente eleito Jair Bolsonaro disse, na sua conta do Twitter,
que a permanência dos cubanos está condicionada à realização do Revalida pelos
profissionais.
“Condicionamos a continuidade do programa Mais Médicos
à aplicação de teste de capacidade, salário integral aos profissionais
cubanos, hoje maior parte destinados à ditadura, e a liberdade para
trazerem suas famílias. Infelizmente, Cuba não aceitou", reafirmou o
presidente eleito em sua rede social no dia 14.
"Além de explorar seus cidadãos ao não pagar integralmente
os salários dos profissionais, a ditadura cubana demonstra grande
irresponsabilidade ao desconsiderar os impactos negativos na vida e na saúde
dos brasileiros e na integridade dos cubanos", publicou Bolsonaro.
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