O resultado tímido da
melhoria da desocupação, o crescimento ainda incipiente do mercado
formal de trabalho e o fenômeno de pessoas que desistiram
de procurar emprego, o chamado “desalento”,
compõem o cenário nebuloso que o próximo presidente terá
que enfrentar.
Técnicos
especializados como Felipe Vella Pateo, responsável pela área que produz as
estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Cadeg) do
Ministério do Trabalho, pondera: “Mudanças na política sempre podem afetar o
crescimento econômico e consequentemente a geração de emprego. Difícil fazer
uma previsão para além de 2018”. De janeiro a agosto, foram
criadas aproximadamente 568 mil vagas com carteira assinada.
Medo do desemprego
Parece mais
clara a influência do desemprego na decisão eleitoral. Para a cientista
política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos
(UFScar), interior de São Paulo, “o desemprego tem um grande impacto nas
preferências eleitorais, especialmente nos setores empobrecidos e médios que
dependem do trabalho para manter sua subsistência”.
Pesquisa de opinião da Confederação Nacional da Indústria (CNI),
feita no final de junho em 128
municípios (amostra de 2 mil pessoas entrevistadas), confirma a percepção sobre
a importância do emprego. O levantamento mostra que o medo de perder o trabalho
aflige quase 68% dos brasileiros. Em mais de 20 anos da pesquisa da CNI, esse é
o maior índice atingido - 18,3 pontos percentuais acima da média histórica de
49,6%.
O medo de perder o trabalho aflige quase 68% dos brasileiros.
A capacidade de gerar emprego deverá ser uma das principais
preocupações do novo presidente após a posse em janeiro de 2019. Conforme
economistas ouvidos pela Agência Brasil, o aumento da oferta do
emprego pode ser resposta positiva e também elemento indutor à retomada do
crescimento econômico.
“Independentemente
de quem ganhe, o grande desafio será gerar emprego”, assinala Maria Andréia
Lameiras, da área de macroeconomia do Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea).
Segundo a especialista, que edita carta de conjuntura sobre mercado de
trabalho, o governo tem tradicionalmente protagonismo para provocar
contratações.
“Emprego só
vem com a volta do investimento. Principalmente, investimento em construção e
em infraestrutura, que são bons gastos para melhorar a competitividade do
país”, avalia Lameiras.
O diretor
técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese), Clemente Ganz Lúcio, também assinala o papel que o governo poderá
assumir para estimular a economia e gerar mais empregos. “É necessário o aporte
de recursos e a adoção de políticas públicas de efeito multiplicador”, defende.
Velocidade da reconstrução
A
convergência entre os dois especialistas sobre o papel do governo para
estimular a economia e o emprego esbarra, porém, nas visões antagônicas que
cada um tem sobre o grau do ajuste fiscal e a disponibilidade de dinheiro no
caixa público.
Na avaliação
do diretor do Dieese, é necessário perseguir o equilíbrio das receitas e
despesas nas nas contas públicas, “mas a médio prazo”. Para ele, a atuação do
governo deve ser mais rápida e aguda.
“Perdemos emprego a 100 km/h e estamos recuperando a 20km/h.
Nessa velocidade, a recuperação dos postos fechados na recessão pode levar mais
de 10 anos”.
A técnica do
Ipea assinala que “destruir empregos é mais fácil e reconstruir oportunidades
demora mais”. Para ela, a capacidade de investimento do novo governo dependerá
de acenos com o ajuste fiscal e com a agenda de reformas, em especial da
Previdência Social. “Traduzindo, isso gera tranquilidade”, explicou.
A avaliação
dela é de que sinais positivos, de que o governo atua para reequilibrar seu
orçamento e reduzir as dívidas públicas, tira a pressão sobre os juros e
desenha um cenário que estimula a iniciativa privada a investir.
“O emprego só vem quando o empresário tiver a percepção de que o
pais está em trajetória de crescimento sustentável”.
O economista
da CNI, Marcelo Azevedo, acrescenta que no caso da indústria, os empresários
voltarão a contratar quando houver sinais de “retomada [do crescimento
econômico] constante e previsível”. Além do equilíbrio fiscal, Azevedo inclui
como fatores que pesam na abertura de vagas na indústria o quadro comercial
externo, a mudança em marcos regulatórios para a indústria e a modernização das
regras tributárias.
Reforma trabalhista
Historicamente,
a contratação na indústria ocorre após diminuição de estoques produzidos,
eliminação da ociosidade produtiva de máquinas, da força de trabalho já
empregada. Para Azevedo, as modificações na legislação trabalhista adotadas em
2017 “facilitarão a recuperação do emprego de forma mais rápida”.
De acordo com os resultados de
agosto do Cageg, a reforma trabalhista apresenta impacto nas
admissões por tempo parcial (7.374 admissões em agosto), por
trabalho não contínuo, intermitente, (5.987 admissões) e nos acordos de
desligamento de empregados (15.010 demissões).
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