O 1º debate entre presidenciáveis na Band foi uma boa
oportunidade para se avaliar o desempenho de cada um deles, em que tiveram de
falar sobre temas relevantes, sem os habituais bate-boca que alimentam
torcidas, mas também turvam escrutínios. Pode ser pouco. Mas, sem dúvida,
melhor que se eles entrassem em cena na mesma balada dos conflitos nas redes
sociais.
Às vezes, o esquenta para
um jogo é mais quente que a própria partida. O primeiro debate entre
presidenciáveis na TV Bandeirantes, tradicional desde sua histórica estreia em
1989, pareceu morno. Até meio gelado em comparação com a aguerrida e
intolerante pré-campanha que agita as redes sociais.
A turma do PT atribui essa amena temperatura à ausência de Lula,
que cumpre pena em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro. Mal começou o
debate, os petistas já o carimbavam como fiasco.
Quem esperava contundentes
troca de caneladas também se frustrou. Não dá nem atribuir a ausência petista.
Afinal, pela primeira vez, estavam na mesma arena, em igualdade de condições,
debatedores como Ciro Gomes, Jair Bolsonaro, Guilherme Boulos, e Cabo Daciolo,
um time acostumado a bater de frente com adversários.
Aqui e ali, até trocaram
estocadas. Foi Boulos, ao mexer na ferida de privilégios obtidos pela condição
de parlamentar, que tirou Bolsonaro da zona de conforto exibida ao longo do
debate. Bolsonaro, por sua vez, teve seu momento de brilho ao questionar a
promessa de Ciro de quitar a dívida de 63 milhões de brasileiros com cadastro
negativo na Serasa. No mais, fora suas toscas propostas para a questão da
segurança, evitou se comprometer.
Boulos saudou Lula em sua
apresentação. Depois seguiu firme no roteiro de ser contra o que está aí, como
contundentes críticas à política de desoneração de impostos para empresas, um
dos carros-chefe de Dilma Rousseff, sem sequer citá-la. Está à vontade no papel
de franco atirador no campo das esquerdas, sem compromisso com maiores
resultados eleitorais.
Cabo Daciolo foi um
espetáculo à parte. Com louvações a Deus e banais frases feitas, ele teve seu
melhor momento, segundo o Google Trends, quando para espanto de Ciro Gomes o
chamou de fundador do Foro de São Paulo — um grupo de partidos de esquerda
latino-americanos criado sob as bênçãos de Fidel Castro e Hugo Chávez. Fora
inusitados entreveros, Ciro se dedicou a apresentar suas propostas de governo,
bem contido, com raras exibições de sua língua afiada.
Os outros presidenciáveis
– Marina Silva, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e Álvaro Dias –, como
previsto, foram bem moderados. Quando muito trocaram algumas educadas farpas.
Tão educado que Alckmin, praticamente sem interrupção, pôde expor boa parte de
seu programa de governo. Mesmo que, como sempre, ele tenha parecido enfadonho,
sua equipe conseguiu material para exibir em seu gigantesco horário de
propaganda eleitoral.
Com essa estratégia, Alckmin optou por bater bola com Marina
Silva, cada um vendendo o peixe de seu programa de governo. Com algumas sutis
estocadas, uma delas com troco, Marina parece ter entrado no jogo apostando que
lhe basta manter o bom recall, reafirmando propostas e condutas de eleições
anteriores, para continuar bem no páreo presidencial.
Henrique Meirelles até
tentou buscar parcerias. Arriscou com Álvaro Dias, seguindo um script de
sucesso nos governos Lula, e crítica às gestões de Dilma Rousseff, e levou a
primeira bordoada. Dias repôs ao currículo de Meirelles o governo Temer. A
partir daí, Meirelles mostrou que, apesar de intenso midia training, continua
com a mesma falta de jogo de cintura das entrevistas coletivas como ministro da
Fazenda.
Com bom desempenho no Sul,
praticamente desconhecido país afora, Álvaro Dias quer usar a bem sucedida
Operação Lava Jato como cartão de apresentação. Lançou o bordão “ abra o olho,
povo brasileiro”, e repetiu várias vezes no debate que vai convidar o juiz
Sérgio Moro para ser seu ministro da Justiça. Moro, que sempre nega vinculações
com políticos, ainda não se manifestou sobre Álvaro Dias usa-lo como um de suas
principais bandeiras eleitorais.
Esse primeiro debate, sem
sal e sem sangue, certamente não atendeu à expectativa de quem esperava um
confronto mais incisivo entre os candidatos. Foi, porém, uma boa oportunidade
para se avaliar o desempenho de cada um deles, em que tiveram de falar sobre temas
relevantes, sem os habituais bate-boca que alimentam torcidas, mas também
turvam escrutínios.
Pode ser pouco. Mas, sem
dúvida, melhor que se eles entrassem em cena na mesma balada dos conflitos nas
redes sociais.
Dificilmente a campanha seguirá nessa toada. A conferir.
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